terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Nossa Senhora de Coromoto

Nossa Senhora de Coromoto



No ano de 1652, Nossa Senhora de Coromoto apareceu aos índios do mesmo nome.
 Foi declarada Padroeira da Venezuela pelo Episcopado venezuelano no dia primeiro
 de maio de 1942. O papa Pio XII a declarou "Celeste e Principal Padroeira de toda
 a República da Venezuela" no dia 7 de outubro de 1944. O Santuário Nacional está 
construído no local da aparição, perto da cidade de Guanaguanare. O Papa João Paulo II,
 em fevereiro de 1996, abençoou pessoalmente este Santuário.
Entre os índios que habitavam a região de Guanaguanare, havia
 um grupo conhecido como "Coromotos". Quando chegaram os 
colonizadores espanhóis, os Coromotos se embrenharam na selva,
 montanhas e vales situados a noroeste da cidade de Guanare, 
nas fontes e margens dos rios Tucupido e Anos.
Os Coromotos moraram muito tempo nesses lugares distantes e sua memória foi sendo
 perdida, até que chegou o momento de sua conversão, graças a poderosa mediação 
da Santíssima Virgem.
Um espanhol honrado e bom cristão, chamado Juan Sánchez, possuía as férteis terras 
de Soropo, situadas a quatro ou cinco léguas de Ganare. A ele se uniram para trabalhar
 a terra e tratar do gado dois colonizadores: Juan Sibrián e Bartolomé ánchez.
Descansando de uma longa viagem em certo dia, do ano de 1651, o Cacique dos 
Coromotos, acompanhado de sua mulher e filhos, eis que lhes aparece uma formosíssima 
Senhora de incomparável beleza, que trazia em seus braços um preciosíssimo Menino
, caminhando sobre as cristalinas águas da corrente. Maravilhados, contemplam a
 majestosa Dama; esta lhes sorri amorosamente e fala ao Cacique em sua própria 
língua, dizendo-lhe que ali fora procurar água para colocar sobre a cabeça e assim 
poder subir aos céus.
Estas palavras foram ditas com tal unção e força que comoveram o coração do
 Cacique. Ele se dispôs a cumprir os desejos de tão encantadora Senhora...
No mês de novembro do citado ano, Juan Sánchez passava perto daquela região
 seguindo a estrada denominada "Cauro", quando ia em viagem para El Tocuyo. A 
certa altura, encontra o chefe dos Coromotos, que lhe conta que uma belíssima 
Mulher, com uma criancinha formosa havia-lhe aparecido pedindo-lhe que fosse
 ao local onde moravam os brancos para buscar água para molhar sua cabeça,
 antes de ir para o céu. E acrescentou o Cacique que tanto ele como todos os
de sua tribo estavam dispostos a atender os desejos de tão excelsa senhora
. Juan Sánchez, gratamente surpreendido pelo relato do índio, disse-lhe que
 estava indo de viagem para um povoado chamado El Tocuyo. A oito dias 
estaria de volta. Quando retornou, Juan Sánchez juntou-se aos Coromotos.
 Toda tribo partiu com o espanhol.
Seguindo as indicações de Juan Sánchez, a caravana se deteve no ângulo
 formado pela confluência dos rios Tucupido e Guanaguanare, num lugar
 que foi chamado de Coromoto. Juan Sánchez foi imediatamente à vila do 
Espírito Santo de Guanaguanare e avisou as autoridades sobre o ocorrido.
Os alcaides Dom Baltazar Rivero De Losada e Dom Salvador Serrada
 Centeno, que governavam a Vila, dispuseram que os índios permanecessem 
em Coromoto e ofereceram-lhes Juan Sánchez para demarcar terras para 
seus trabalhos e para doutriná-los nos rudimentos da religião cristã.
 O abnegado espanhol cumpriu sua missão cuidadosamente, fazendo
 de tudo para tornar feliz a permanência dos índios naquela região.
Os indígenas construíram seus ranchos, receberam as terras e, contentes,
 ouviam as explicações doutrinárias que lhes dava o espanhol, ajudado
por sua esposa e os outros dois companheiros. Este trabalho apostólico
 foi sendo coroado de êxito. Pouco a pouco os índios iam sendo batizados.
O Cacique, a princípio, assistia com gosto às instruções, mas começou a se
 desgostar e a sentir falta de seus bosques. Não mais freqüentou as reuniões
 promovidas por Juan, não quis mais aprender a doutrina cristã e se recusou a ser batizado.
No dia 8 de setembro de 1652, Juan Sánchez convidou os índios que
 trabalhavam em Soropo para assistirem a alguns atos religiosos que 
haviam sido preparados. O Cacique Coromoto recusou este convite.
Ainda assim, seus companheiros honraram com humildes preces a 
Virgem. Isso deixou o Cacique enraivecido que fugiu para Coromoto.
A cabana do Cacique era a maior entre todas as choças indígenas, mas
 era pequena e pobre em comparação às casas dos espanhóis. Naquela
 noite se encontravam na cabana uma irmã do Cacique, chamada Isabel 
e seu filho, de doze anos e outras duas índias. O Cacique Coromoto
 chegou muito triste e calado. Imediatamente deitou-se na esteira.
Vendo o seu estado, ninguém lhe dirigiu a palavra. Passou-se um longo
 tempo de silêncio. O Cacique tentava dormir, mas dentro de sua memória 
não saía aquela Senhora. Ouvia sua doce, contudo, outros pensamentos
 turvavam seu triste e melancólico caráter: seu orgulho humilhado pela 
obediência e sua desenfreada liberdade, clamava por uma completa 
emancipação; certa raiva interna e inexplicável lhe pintava o batismo 
e a vida dos branco como insuportáveis.
Em poucos minutos, a Virgem Santíssima apareceu na cabana do Cacique, 
em meio a invisíveis legiões de anjos que formavam seu cortejo. Dela
 saíam raios de luz que inundaram a choça.
Segundo o testemunho da índia Isabel a luz era tão potente que parecia
 a luz do sol ao meio-dia. Mas não cansava a visão daqueles que a
 contemplavam tão grande maravilha.
O Cacique reconheceu a mesma bela mulher que, meses antes, 
contemplara sobre as águas. O índio pensava, provavelmente, que 
a Senhora viera reprovar seu comportamento. Passados alguns segundos, 
o Cacique rompeu o silêncio e dirigindo-se à Senhora disse enfurecido: 
Até quando irás me perseguir?" Estas palavras impensadas e desrespeitosas 
mortificaram a esposa do Cacique, que o consolou: "Não fales assim
 com a bela mulher. Não tenhas tanto mal em teu coração". O Cacique,
 encolerizou-se e não pôde mais suportar a presença da Divina Senhora
 que permanecia à porta dirigindo-lhe um olhar tão terno e carinhoso, 
capaz de comover o coração mais duro. Desesperado, o Cacique saca 
de um arco com uma flecha e chegando ao auge de sua loucura ameaça
 matá-la. Nesse instante, a Excelsa Senhora entra na choça, sorridente e 
serena, aproxima-se dele que lança o arco contra o chão. O Cacique tenta
 abraçar a Senhora que desaparece, deixando a cabana iluminada apenas
 pela luz do fogão.
Fora de si e mudo de terror, ele ficou alguns minutos imóvel, com os braços 
estendidos e entrelaçados, na mesma posição em que estavam quando
 tentara agarrar a Virgem. Ele tinha uma mão aberta e a outra fechada,
que apertava o máximo. Ele sentia que a bela mulher a havia fechado.
Cheio de temor, o índio disse à sua mulher: "Aqui a tenho!". As mulheres
 disseram em coro: "Mostre-nos". O Cacique abriu a sua mão e os quatro
 indígenas reconheceram ser aquela uma imagem e acreditaram que era a 
"Bela Mulher". Quando o índio abriu a mão, a pequena imagem lançou raios 
luminosos que causaram grande esplendor. O Cacique começou a suar frio.
 Com a mesma fúria de antes, envolve a milagrosa imagem em uma folha e a
 esconde no teto de palha de sua casa dizendo: "Aí tu te queimarás, para que me deixes".
O indiozinho, que interiormente desaprovava a torpe conduta do tio, prestou 
bem atenção no esconderijo da imagem e resolveu avisar Juan Sánchez sobre
 o que ocorrera. Escapou da casa por volta da meia-noite em direção a
 Soropo, enfrentando com coragem todos os riscos. Ao chegar, todos 
dormiam. Ele sentou-se à beira da porta e esperou o amanhecer.
A esposa de Juan Sánchez, ao abrir a porta de sua casa na madrugada do
 domingo, surpreendeu-se ao ver o menino. Ele contou-lhe tudo que havia
 acontecido. A mulher chamou o marido. Juan sorriu e não deu crédito ao
 relato do indiozinho, que repetiu sua história veementemente: "Podem ir a
 Coromoto agora mesmo e vocês irão comprovar o que digo".
Bartolomé Sánchez, Juan Sibrián, Juan Sánchez e o indiozinho se puseram
 sem demora a caminho de Coromoto. Quando chegaram perto do povoado
 os três espanhóis se esconderam a três quadras da casa. O menino se
 encarregou de ir à choça do tio apanhar a imagem. Felizmente, o Cacique
 e as duas mulheres estavam fora da casa. Sem que ninguém o visse,
 o menino entrou na casa. Com o coração em júbilo pegou a imagem 

e a levou para Juan que, ao recebê-la, sentiu profunda emoção. Na imagem 
reconhecera a efígie de Maria Santíssima, a Mãe de Deus. Com muito
 respeito a colocou em um relicário de prata que costumava carregar.
Retornando à sua casa em Soropo, Juan Sánchez colocou a pequena
 imagem, que já começava a ser chamada de Nossa Senhora de Coromoto, 
em um altarzinho, alumiando-a com uma vela de cera escura. Esta humilde 
luminária ardeu dia e noite, sem consumir-se desde as doze horas da noite 
de domingo até à tarde de terça-feira. Este fato foi declarado milagroso,
 pois o pedaço de vela deveria arder, no máximo, uma meia hora.
Terça-feira, à tarde, Juan Sánchez foi à Vila de Guanaguanare (Guanare) 
onde revelou ao Padre Dom Diego Lozano, tudo quanto sabia sobre a
 imagem. Mas este não lhe deu crédito, dizendo que aquela estampa 
deveria ser obra de algum viajante. Juan Sánchez, sem se lastimar por isso, 
regressou feliz a Soropo, pois comprara o necessário para manter uma 
lamparina acesa diante da imagem, que ficou em sua casa até primeiro
de fevereiro de 164, isto é, um ano e quatro meses.
No dia 9 de setembro, domingo, o Cacique resolveu ir aos montes com
 alguns índios. Mal entrou no bosque foi mordido por uma cobra. 
Vendo-se mortalmente ferido e reconhecendo no acontecimento um 
castigo do céu pela sua péssima conduta com relação à Senhora,
 começou a se arrepender, pedindo em altos gritos que lhe administrassem o Batismo.
A casa de Juan Sánchez se transformou num pequeno santuário.
 Para aí acorreu toda a população de Guanare atraída pelos milagres,
 graças e favores que eram alcançados por intercessão de
 Nossa Senhora de Coromoto.
No dia primero de fevereiro de 1654 a imagem foi trasladada 
solenemente para a igreja de Guanare por ordem do pároco 
Diego de Lozano. A devoção popular foi crescendo espantosamente 
até a coroação pontifícia em 1952.
A força histórica do fato coromotano repousa principalmente no
testemunho do povo. Uma tradição jamais interrompida. Na década 
dos anos 20, houve um evidente ressurgir do movimento coromotano,
 mas não se pode dizer que tenha sido o ressurgir de algo morto, pois
 desde sua aparição até os nossos dias, o povo da Venezuela jamais
 deixou de peregrinar a Guanare para honrar sua padroeira.


Atualmente pode-se afirmar que não existe um só templo católico 
venezuelano que não possua uma imagem de Nossa Senhora de Coromoto, 
sempre amada e homenageada pelos fiéis.


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