terça-feira, 22 de dezembro de 2015

N. S. da Ternura

N. S. da Ternura

Nossa Senhora da Ternura – A Virgem De Vladimir
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Maria, recebeu este título do povo russo, pela sua devoção a um ícone de Nossa Senhora, de origem grega, pintado por um artista anônimo do século XII. Em 1160 foi levado para a catedral da Assunção de Vladimir. Permaneceu, por muito tempo, na cidade de Vladimir; por este motivo leva o nome de ‘A Virgem de Vladimir’, ou ‘A Virgem da Ternura de Vladimir’. A tradição atribui a S. Lucas o ícone da Virgem de Vladimir. A contemplação deste ícone conduz-nos a uma experiência espiritual profunda. Leva-nos a seguir um movimento que parte dos olhos da Virgem em direção às suas mãos. Passa das mãos de Maria para a criança e da criança novamente para os olhos de Maria.
Os olhos da Virgem
Os seus olhos olham para dentro e para fora ao mesmo tempo. Olham para dentro, para o coração de Deus e para fora, para o coração do mundo, revelando, assim, a unidade entre o Criador e a criação. Os seus olhos contemplam os espaços infinitos do coração, onde a alegria e a tristeza não são mais emoções contrastantes, mas transcendidas na unidade espiritual. O olhar de Maria é acentuado pelas estrelas que brilham na sua testa e nos seus ombros. As estrelas falam da presença divina que habita em Maria. Maria está completamente aberta ao Espírito, que a torna mais interiorizada e completamente atenta ao poder criador de Deus. Contemplando a Virgem de Vladimir, constatamos que ela nos olha com os mesmos olhos com que olha para Jesus.
As mãos da Virgem
É impossível rezar durante muito tempo contemplando o ícone sem nos sentirmos atraídos pelas suas mãos. Uma das mãos sustenta a criança, enquanto a outra permanece livre, num gesto aberto de convite. Maria é a mãe de Jesus. Todo o seu ser é Jesus. A sua mão não ensina, não explica nem pede. Simplesmente oferece o seu filho como o Salvador do mundo a todos os que estão abertos a ver Jesus com os olhos da fé.
A mão de Maria ocupa o coração do ícone
É indescritivelmente bela. A centralidade da mão resume o ícone inteiro. Enquanto a nossa atenção vai dos olhos para as mãos de Maria, lentamente, percebemos a sua profunda paciência. Ela é a mãe paciente que espera a hora do nosso «sim». A sua mão está sempre ali, no âmago do mistério da Encarnação, convidando-nos a ir a Jesus.
O filho da Virgem
Ao olhar longamente o ícone percebe-se o significado de tudo o que o rodeia. É fácil notar que o filho não é um bebé. É um sábio vestido com roupas de adulto. O rosto iluminado e a túnica dourada indicam que o sábio é verdadeiramente o Verbo de Deus, cheio de majestade e esplendor. É o verbo feito carne, Senhor de todos os tempos, fonte de toda a sabedoria, princípio e fim da criação. Tudo fica claro dentro e ao redor do filho. No filho não há escuridão.Contemplando o rosto da criança percebemos uma luz esplêndida no lado direito do ícone, tocando delicadamente o nariz da Virgem e iluminando o rosto do filho. Mas a luz vem também de dentro. É um brilho interior que se projeta para fora e aprofunda a intimidade entre mãe e filho, revelada no abraço carregado de ternura. A criança dá-se completamente à Virgem. O braço envolve afetuosamente mãe e filho. Os olhos da criança estão fixos nos olhos dela. A atenção é plena. A Sua boca está próxima à da mãe, oferecendo-lhe o sopro divino. Jesus oferece a sua sabedoria divina à Mãe da humanidade.Os olhos da Virgem chamam a nossa atenção para as suas mãos; as suas mãos chamam a atenção para a criança; e a criança reconduz-nos a ela, que fala ao Filho em nome de toda a humanidade.
Os Ícones
Os ícones participam na beleza da oração. Eles são como janelas que se abrem às realidades do Reino de Deus e as tornam presentes na nossa oração sobre a terra. Eles são um apelo à nossa própria transfiguração. Apesar de o ícone ser uma imagem, não é uma ilustração pura nem decoração. É sinal da encarnação, é presença que oferece aos olhos a mensagem espiritual que a Palavra dirige aos ouvidos. O fundamento dos ícones é, segundo São João Damasceno (século VIII), a vinda de Cristo à terra. A salvação está ligada à encarnação do Verbo divino, por consequência, à matéria: «Deus, que não tem corpo nem figura, não podia outrora, de maneira nenhuma, ser representado por qualquer imagem. Mas agora, que Deus permitiu ser visto em carne e viver no meio dos homens, eu posso fazer uma imagem daquilo que vi de Deus. Eu não adoro a matéria, mas sim o criador da matéria, que se tornou matéria por minha causa, que quis habitar a matéria e que, através da matéria, me deu a salvação.» Pela fé que transmite, pela sua beleza e profundidade, o ícone pode abrir um espaço de paz, reavivar uma espera. Ele convida a acolher o mistério da salvação na nossa humanidade e em toda a criação.

Nossa Senhora da Ternura ou Nossa Senhora do Doce Beijo

Trata-se de um ícone da escola cretense do século XVII. A Virgem da Ternura era um tipo de ícone que tinha uma popularidade especial nos Bálcãs, nas regiões gregas e italo-bizantinas.
Salta aos olhos as expressões de carícias dos dois rostos. Sensibiliza-nos, especialmente, a disposição das mãos: a do Menino Jesus está apoiada num confiante abandono sobre a mão direita da Mãe, enquanto que com a sua mão esquerda Ela o segura e ao mesmo tempo parece acariciá-lo. O vermelho é delicado e muito claro com relação aos demais ícones: a escola cretense acolhia elementos derivados da pintura retratística ocidental.
As vestes – feitio, coloridos, pregas – são as tradicionais: o ‘mafórion’ da Santíssima Virgem cereja-escuro sobre a veste azulada com mangas bordas. Jesus se veste como adulto e tem os pezinhos descalços, a mãozinha direita, apoiada sobre o joelho, aperta o rolo da Escritura, os traços do rosto mostram ser verdadeiro menino.
A auréola em torno da cabeça da Mãe de Deus delimita uma parte do fundo dourado escuro e vem tipicamente trabalhada: sobre o fundo dourado escuro e vem tipicamente trabalhada: sobre o fundo preparado com gesso antes da pintura (sempre necessário para ser verdadeiro ícone), foram incisos pequenos buraquinhos redondos ligados ao desenho, os quais depois da douração de fundo mantêm um efeito visível.
Este ícone da Virgem da Ternura mede 49×64 cm e pertence ao Pontifício Colégio Grego de Roma.
Que Nossa Senhora, a Mãe da Ternura, o único ser que ‘abraça Aquele que todo o Universo não pode conter’ (Santo Éfrem), desperte em nossos corações sentimentos de bondade e ternura para com todos! Amém.
Fonte: Irmã Maria Donadeo, em ‘Ícones da Mãe de Deus’, Ed. Paulinas, 1997, pp. 144-147.
Arquivo em PDF > ENS-NSTernura

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